Rei Lear das Estepes

Rei Lear das Estepes

criado em: 14:49 10-02-2023



Ivan Turguêniev (1818-1883) foi um dos grandes mestres da ficção do século XIX. Em O rei Lear da estepe (1870), ele parte da conhecida tragédia de Shakespeare, na qual o soberano, com idade avançada, abre mão de seu reino para legá-lo às filhas, e ambienta-a na pequena propriedade rural de uma província russa, lançando mão de suas próprias experiências de juventude, como havia feito em Memórias de um caçador (1852). Trazendo a primeira tradução direta da novela no Brasil, o volume inclui ainda o “Discurso sobre Shakespeare” de Turguêniev, proferido no tricentenário do dramaturgo inglês, e um posfácio da tradutora Jéssica Farjado.

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Turguêniev utiliza o molde da história de Shakespeare e apresenta um caso similar ao de Shakespeare ocorrido nos campos russos, mudando o foco da nobreza para as classes populares. A estrutura básica da história é mantida, permitindo a comparação entre os personagens russos e seus contrapartes britânicos. Além disso, a obra é também uma análise dos tipos russos típicos do século XIX. A forma de novela permite desfechos rápidos e uma progressão elétrica e vibrante, tornando a leitura agradável.

A escrita de Turguêniev se destaca pela retratação do povo russo e paisagens, com descrições belas da natureza que refletem os estados psicológicos dos personagens e da trama. O autor vai além de Shakespeare ao retratar personagens com ecos de outros arquétipos shakespeareanos e com uma forte relação com o folclore russo. A obra "O rei Lear da estepe" é mais do que uma simples adaptação e mostra seu vigor próprio.

A edição inclui dois apêndices. O primeiro é um discurso de Turguêniev em comemoração aos 300 anos do nascimento de William Shakespeare, que é mais um elogio grandioso do que uma análise interessante da obra, tornando-o um pouco tedioso de ler. Já o segundo apêndice, uma pequena análise da tradutora Jéssica Farjado, é mais interessante ao contextualizar o significado de Shakespeare na Rússia e na obra em questão, com apontamentos que aprofundam a compreensão da obra. É importante destacar também a capa, retirada de uma pintura expressionista de Erich Heckel, que é bela e resume muito bem alguns aspectos do livro.