Kierkegaard
Kierkegaard
Metadata
- Autor: Colecao Os Pensadores - Soren A. Kierkegaard
- Título Completo: Kierkegaard
- BI: 17240913
- 5 coisas sobre Kierkegaard
INTRODUÇÃO E TEMAS
Søren Aabye Kierkegaard, nascido em 1813 em Copenhague, Dinamarca, é amplamente considerado o pai do existencialismo moderno. Sua obra abrange uma série de temas filosóficos e teológicos que examinam a condição humana, a subjetividade, a fé e a ética. A partir de sua crítica à filosofia hegeliana e ao cristianismo institucionalizado de sua época, Kierkegaard desenvolveu uma abordagem original que enfatiza a importância da escolha individual e do compromisso pessoal.
Principais Temas Abordados por Kierkegaard:
- Subjetividade:
- Para Kierkegaard, "a verdade é subjetiva". Ele argumenta que a verdade não pode ser completamente capturada por sistemas abstratos ou objetivos; ao contrário, ela é algo que deve ser vivenciado pessoalmente.
- A existência humana é marcada pela angústia e pelo desespero justamente porque cada indivíduo deve confrontar suas próprias escolhas e responsabilidades.
- Estágios da Vida:
- Estético: Caracterizado pela busca do prazer imediato e superficial. Pessoas nesta fase vivem para o momento sem um compromisso profundo.
- Ético: Neste estágio, o indivíduo reconhece as obrigações morais e sociais, vivendo conforme princípios éticos estabelecidos.
- Religioso: O estágio final envolve um salto de fé onde o indivíduo se rende totalmente à vontade divina, superando as limitações da razão.
- Desespero:
- Descrito como uma condição universal da existência humana. O desespero surge quando há uma falta de alinhamento entre o eu verdadeiro (self) e suas possibilidades; trata-se de uma luta interna entre o desejo de ser algo diferente do que se é.
- Fé e Paradoxo:
- Para Kierkegaard, a fé representa um paradoxo vital onde se crê naquilo que é absurdamente impossível pela razão. Ele usa a figura bíblica de Abraão (no episódio do sacrifício de Isaac) para ilustrar essa noção.
- Crítica à Hegemonia da Razão:
- Kierkegaard criticava a supremacia da razão na filosofia e na vida cotidiana, propondo que a existência verdadeira transcende a compreensão racional e entra no domínio da fé e do irracional. Segundo ele, o excesso de racionalização pode levar à perda do sentido verdadeiro da vida e da própria existência.
Análise:
O texto original a seguir são fragmentos de uma das obras de Kierkegaard, possivelmente relacionada à natureza do desespero, a existência e a condição humana. Os destaques mencionam conceitos como a dualidade do ser humano (infinito e finito, temporal e eterno, liberdade e necessidade), a natureza do desespero, e a imortalidade da alma. Esses temas são centrais na filosofia de Kierkegaard, que explora profundamente a ideia do desespero não apenas como uma condição negativa, mas como uma possibilidade de reconhecimento e de transformação pessoal.
Complementação com Base nos Temas de Kierkegaard:
- Desespero como doença e possibilidade: No texto, Kierkegaard descreve o desespero como uma "doença mortal", mas também como uma condição única da existência humana que permite ao indivíduo confrontar-se com sua própria eternidade e impossibilidade. Este paradoxo é típico da abordagem kierkegaardiana, que vê na crise pessoal uma oportunidade para a realização espiritual.
- Eternidade do eu e a imortalidade da alma: O texto faz uma analogia entre a incapacidade do desespero de destruir o eu e a prova de Sócrates sobre a imortalidade da alma. Aqui, Kierkegaard ressalta que a essência do ser humano, seu eu verdadeiro, é eterno e indestrutível, mesmo diante das adversidades extremas como o desespero.
- A relação entre desespero e fé: O desespero é também uma porta para a fé, conforme Kierkegaard. Ao se desesperar, o indivíduo se depara com a limitação de sua própria razão e a necessidade de um "salto de fé", elemento essencial para alcançar a verdadeira existência religiosa, conforme descrito nos estágios da vida.
Conclusão:
A filosofia de Kierkegaard é marcada por uma profunda investigação sobre o desespero, a fé, e a condição humana, desafiando os indivíduos a reconhecerem suas crises pessoais como momentos de potencial revelação e transformação. O texto original ilustra bem essa visão, destacando como a complexidade da existência humana e a inevitabilidade do desespero moldam a jornada em busca de um significado maior na vida.
DESTAQUES – KIERKEGAARD - OS PENSADORES
- silêncio, quer consista numa ação ou em um sofrimento. Para não me alongar mais, contentar-me-ei em analisar o que se apresenta. Se fosse Agamêmnon a puxar da faca sobre Ifigênia em lugar de Calcas, ter-se-ia diminuído ao pronunciar algumas palavras no momento supremo, porque o sentido da sua ação a todos se tornava notório; o processo da piedade, da compaixão, do sentimento, das lágrimas estava cumprido, e, para além disso, a sua vida não mantinha nenhuma relação com o espírito; quero dizer que não era um mestre ou testemunha do espírito. Pelo (Page 299)
- O homem é uma síntese de infinito e de finito, de temporal e de eterno, de liberdade e de necessidade, é, em suma, uma síntese. Uma síntese é a relação de dois termos. Sob este ponto de vista, o eu não existe ainda (Page 318)
- Eis a fórmula que descreve o estado do eu, quando deste se extirpa completamente o desespero: orientando-se para si próprio, querendo ser ele próprio, o eu mergulha, através da sua própria transparência, até ao poder que o criou (Page 320)
- A superioridade do homem sobre o animal está pois em ser (Page 321)
- nossa verticalidade infinita ou da nossa espiritualidade sublime. A superioridade do homem sobre o animal está pois em ser suscetível de desesperar, a do cristão sobre o homem natural, em sê- lo com consciência, assim como a sua beatitude está em poder curar-se. (Page 321)
- Assim há uma infinita vantagem em poder desesperar, e, contudo, o desespero não só é a pior das misérias, como a nossa perdição. Habitualmente a relação do possível com o real apresentase de outro modo, porque, se é uma vantagem, por exemplo, poder-se (Page 321)
- Mas uma “doença mortal” no sentido estrito quer dizer um mal que termina pela morte, sem que após subsista qualquer coisa. E é isso o desespero (Page 324)
- Assim, estar mortalmente doente é não poder morrer, mas neste caso a vida não permite esperança, e a desesperança é a impossibilidade da última esperança, a impossibilidade de morrer. Enquanto ela é o supremo risco, tem-se confiança na vida; mas quando se descobre o infinito do outro perigo, tem-se confiança na morte. E quando o perigo cresce a ponto de a morte se tornar esperança, o desespero é o desesperar de nem sequer poder morrer (Page 324)
- No desespero, o morrer continuamente se transforma em viver. Quem desespera não pode morrer; assim com um punhal não serve para matar pensamentos, assim também o desespero, verme imortal, fogo inextinguível, não devora a eternidade do eu, que é o seu próprio sustentáculo (Page 325)
- Sócrates provara a imortalidade da alma pela impotência da doença da alma (o pecado) em destruí-la, como a doença destrói o corpo. Pode-se demonstrar identicamente a eternidade do homem pela impotência do desespero em destruir o eu, por esta atroz contradição do desespero. Sem a eternidade em nós próprios não poderíamos desesperar; mas caso ele pudesse destruir o eu, também não haveria desespero (Page 327)