curadoria de filosofia da tecnologia

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Vinícius Portella

A convite da seção ‘Favoritos’, o escritor Vinícius Portella, indica cinco livros para entender a crise tecnológica e o impacto dela nas sociedades

Vivemos hoje uma espécie de crise tecnológica total, da nossa dependência suicida de combustíveis fósseis até nosso vício em telas de smartphone – tudo isso sob subserviência geral da cultura a um punhado de monopólios de informação. De cabo a rabo, estamos implicados nas tecnologias que usamos, mas o fato é que geralmente sabemos muito pouco sobre elas. Geralmente nem mesmo as pessoas com todo o acesso à educação do mundo entendem os aparelhos que usam (e muito menos, claro, como estão sendo usados por eles).

E isso tudo porque historicamente a tecnologia passa ao largo das ciências humanas, embora nos últimos tempos se observe um movimento contrário. A explosão da internet no fim dos anos 1990 veio acompanhada de uma explosão de estudos de mídia e tecnologia nas décadas seguintes, tentando acompanhar a velocidade alucinante das transformações na sociedade. Vozes como Wendy Chun, McKenzie Wark, Tiziana Terranova, Geert Lovink e Eugeny Mozorov nos oferecem mapas e bússolas úteis para navegar de maneira crítica os ciclos cada vez mais acelerados de consumo e reprodução na internet, baseados sempre em ciclos também acelerados de exploração do trabalho e extrativismo de recursos naturais.

Numa direção mais ampla, muitos vêm também tentando recuperar o pensamento filosófico sobre tecnologia do século 20 para tentar reimaginar a técnica desde sua base, em especial diante da crise climática.

Uma coisa parece certa: vindo de onde vier, o confronto real com nossos problemas ecológicos e sociais demanda uma investigação profunda das nossas cadeias de mediação tecnológica. E está mais do que na hora de as ciências humanas se embrenharem mais fundo nessas questões.

How We Became Posthuman

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N. Katherine Hayles (University of Chicago Press, 2008)

Uma das principais teóricas norte-americanas de literatura e tecnologia, Nancy Katherine Hayles escreveu esse clássico da teoria de mídia no final da década de 1990 (infelizmente ainda sem tradução por aqui). As principais discussões do livro giram em torno da oposição entre o digital e o corpo, informação e matéria, e em como o mito do digital se construiu em cima de uma negação da sua materialidade subjacente. Hayles descortina os fundamentos filosóficos, científicos e políticos da era cibernética com erudição e clareza.

Do modo de existência dos objetos técnicos

review On the Mode of Existence of Technical Objects by Simondon

Gilbert Simondon (Trad. Vera Ribeiro, Contraponto, 2020)

Gilbert Simondon ainda é bem desconhecido no Brasil, apesar de ter influenciado bastante o filósofo Gilles Deleuze (figurinha carimbada nas pós-graduações em humanidades por aqui). Simondon parte da premissa de que a cultura humanista ocidental havia se formado como um sistema de defesa contra a técnica, considerada em si uma fonte de alienação. Em contraponto, o autor oferece uma visão da tecnicidade não como uma força oposta ao humano e à natureza, mas como algo que deve ser entendido de forma mais aberta e horizontal, menos concentrada em tecnocratas e mais espalhada por toda a sociedade. Talvez seja a hora de começar a digerir melhor essas ideias.

A Hacker Manifesto

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McKenzie Wark (Harvard University Press, 2004)

Também sem tradução no Brasil, o manifesto hacker da teórica australiana McKenzie Wark é um poderoso documento especulativo sobre a maneira com que as tecnologias digitais trazem um novo diagrama de forças políticas para o mundo. Ao contrário de muitos livros sobre tecnologia que são escritos no calor do momento (e que por isso logo parecem obsoletos), Wark conseguiu aqui produzir conceitos que continuam úteis mesmo depois de transformações significativas no campo.

A verdade do mundo técnico

summary the truth of the technological world

Friedrich Kittler (Trad. Markus Heddiger, Contraponto, 2017)

Filho improvável de Heidegger, Lacan e Foucault (mas antes de tudo do romantismo alemão), Friedrich Kittler é o principal nome do que veio a se chamar a escola alemã de teoria de mídia. Levando muito a sério a relação entre tecnologia e guerra, Kittler inverte a relação humanista tradicional entre a humanidade e seus meios técnicos, compreendendo o humano como um produto de suas próprias tecnologias. O mais paranoico de todos os pensadores de tecnologia, Kittler não via nenhuma força emancipadora na ascensão da computação pessoal norte-americana dos anos 1990, mas sim a implementação de um circuito vertical e fechado de controle corporativo. Parece difícil dizer hoje que ele estava exagerando.

Tecnodiversidade

Hui, Yuk

Yuk Hui (Trad. Humberto Amaral, Ubu, 2020)

Yuk Hui é um jovem e prolífico pensador chinês que rapidamente se tornou uma das principais referências contemporâneas no pensamento sobre tecnologia. Com uma erudição vasta, Yuk tenta não só construir pontes entre os pensamentos do Oriente e do Ocidente, mas também entre tradições díspares dentro do Ocidente. Nos textos reunidos neste volume, sua meta é a construção de uma noção cosmológica pluralista da técnica (ou cosmotécnica), nos permitindo conceber a diversidade técnica entre diferentes culturas. Se este projeto ambicioso é bem-sucedido ou não, aí já são outros quinhentos. Mas certamente é uma voz a se acompanhar com muita atenção.

Vinícius Portella é mestre em Dartmouth e doutor na UERJ, ambos na área de literatura comparada. Além de ficção e crítica, já publicou artigos acadêmicos sobre cultura e tecnologia. É editor e um dos fundadores da Editora Machado. ‘O inconsciente corporativo’ e outros contos é seu terceiro livro de ficção.

Piedade filial no pensamento confucionista: O princípio da Piedade Filial ou Xiao na filosofia confucionista ressalta a demonstração de obediência e respeito aos mais velhos. De acordo com Confúcio, essa virtude é o fundamento básico de todo comportamento moral e desempenha um papel fundamental na manutenção da estabilidade e da ordem social, beneficiando a saúde mental individual e comunitária. - #FilialPiety #ConfucianThought #MoralBehavior -