Der Zauberberg Ou Como deixar a sala vazia rapidamente

20082022

criado em: 02:35 2022-08-10

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Der Zauberberg Ou Como deixar a sala vazia rapidamente

Acabei de acabar o livro do Mann, A montanha Mágica, ou, simplesmente, Der Zauberberg. Estou chapado de café, então é possível que as coisas fiquem meio forçadas e tal; é o meu quadro “acabou de acabar” do Gaspar no youtube mas apenas para mim e relacionado a este livro que comecei a ler em meados de janeiro, com a primeira nota em terça-feira, 28 de fevereiro de 2017 17:22:16 – quer dizer,

levei pelo menos três meses para acabar a aventura de Hans Castorp na montanha “mágica” onde ele passou cerca de sete anos. No caminho aprendi junto com ele; suas agruras eram as minhas – pessoas vieram e se foram, e sua vida era mais real do que a de muitas pessoas que encontro todos os dias – pessoas que não me parecem reais por que não fazem sentido, não possuem profundidade – tampouco Hans castorp a possuía também, mas isso era previsto e parte da peça, enquanto que pessoas na vida real deveriam ao menos existir concretamente, através de atos, palavras e pensamentos – o que não ocorre por que a maioria esta atrás da mesma coisa sempre: lucro, prazer fácil, benevolência dos superiores... eu também sou assim, mas sei que existe um outro lado – o lado que eu criar com meus pensamentos, atos e ações. O fim do livro de maneira alguma encerra minha aprendizagem, e não estourou nenhuma guerra aqui como no livro – continuo cheio de tarefas de casa e de aprendizagem, tanto é que se a morte acaso viesse ia me encontrar implorando por alguns dias para entregar o trabalho; é assim que somos. O livro fala de tantas coisas, mas seu leitmotiv é o tempo e a relatividade do tempo – como corre diferente para diferente pessoas em diferentes regiões e com diferentes estados de espírito... a mágica que a montanha se refere é a mágica que permeia a breve vida humana – a mágica dos encontros, a mágica da adivinhação, do além, da ciência e do que significa, afinal, ser humano. Penso muitas vezes em como a ilusão é a definição perfeita de tudo o que existe – a realidade mesmo é muito semelhante à uma peça de teatro, um filme, ou um romance; de fato, a arte não imita a vida, mas arte e vida são a mesma coisa e não se pode falar de imitação quando se fala de mesmas coisas com nomes diferentes.

Eu ouvi falar do romance pela primeira vez quando ouvia a musica “a montanha magica” do Renato russo com o Legião urbana – então eu não sabia que era de um romance que ele falava – e baixei da internet um filme chamado Der Zauberberg e que já estava a mofar no meu computador por que me parecia chato e eu sempre passava outros na frente. Assisti no começo de 2015, se não me engano – e, grande engano meu, o filme era interessante. Engraçado de uma maneira espirituosa, elegante e com questões que ainda eram pertinentes à grande parte da humanidade, o filme como um todo era uma obra boa e bem acabada. Descobri enfim o livro e baixei no Lelivros – site de livros roubados grátis - espero comprar a versão paga ou, ao menos, outro do Mann (os buddenbrocks ou morte em veneza ou fausto, são tantas opções e todas maravilhosas) em breve, para aliviar a consciência senão para admitir que valeu a pena. Li o livro e tive algumas reflexões que espero compartilhar com estes pixels pretos em canvas branco que é o word.

Eu era o Hans castorp em 2013 quando fui para Miguel pereira fazer um retiro e esquecer da faculdade e da vida em Cuiabá, incluindo a Fatima. Seu eu houvesse lido o livro antes talvez não houvesse

malogrado pois não iria nutrir esperanças de viver de retiros- Hans castorp estava doente, mas também era rico, não precisava se preocupar em pagar para ficar lá, sua herança dava e sobrava. Também, lá era um tipo de retiro mundano, onde não haviam regras sobre não ler, sair ou fazer qualquer coisa relacionada à mundanidades como é um retiro de vipassana. Nada contra, eu me acostumaria melhor com as regras se soubessem que era um retiro diferente do de Castorp em a montanha mágica – de fato, eu queria um retiro como o dele e não como o de vipassana em Miguel pereira, posto que neste retiro eu fiz tudo o que faria o castorp em seu retiro – li, passeei, conversei, e interagi à maneira de que interagiam os personagens do sanatório (com artimanhas e influências deliberadas)... talvez o que eu quisesse mesmo fosse um spa – pois não foi isso que o Tim me m falou naquela noite tempestuosa? Que ali não era férias ou resort – que não podíamos ler ou esquivar o trabalho, que, enfim, ali eu não era livre – que eu estava convidado a me retirar?

Amadureci também como leitor, com certeza. O livro é um dos maiores que já li, e não esmoreci até acabar, apesar de ter deixado muitas lacunas no entendimento de certas partes, principalmente as filosóficas – uma segunda leitura já se faz necessária pois eu pretendo alardear que li o livro, mesmo que ninguém se importe, e também isso que dizer que só por que se leu um livro não precise nunca mais voltar a ler ou que se entendeu o livro cem por cento – ler é um prazer muito maior que o sexual e muito mais acessível – quando eu me engajei no romance, o lia como um hábito impossível de se perder

– pelo menos um capítulo por vez, e eu senti que isso influenciou na leitura de todo o resto. E em dias de abandono como estes em que a Fatima fica semanas fio na casa da mãe dela no centro, as aventuras de Hans castorp eram um deleite a mais.

Minha memória melhorou – lembrar deste e daquele personagem, com detalhes, e muitas vezes ficar pensando neles mesmo depois que o livro acabou, essas eram coisas incríveis que a minha memoria poderia fazer – mesmo com o celular hoje em dia anotando tudo e substituindo minha memoria. Me deu uma vontade de viver no frio mais uma vez... não precisa ser uma montanha – mas precisa ser com neve –não por que ela agora é uma paisagem idílica, como Herzog vende quando fala da Taiga e dos homens que vivem nela no seu documentário, mas com entendimento de quão difícil é a vida em um lugar congelado e ameaçador, porém com recompensas inegáveis como pensar claramente e profundamente, acalmar o corpo e a alma, juntar-se à porção inconsciente e profunda do universo e da natureza, enfim, uma facilidade difícil de encontrar aqui na baixada cuiabana.

Não reclamo, no entanto – não quero outro desengano com a minha própria montanha mágica – ela só existe no livro e no fundo da alma dos homens –mas eu quero a paz que garante a sabedoria e o esforço; quero a tranquilidade de quem lutou por isso – viver em Cuiabá, ainda com tanta ajuda e apoio é uma luta constante – disso não tenho dúvida. Luta contra o calor, e, principalmente contra si mesmo. Nunca estive tão acima do peso (para usar um eufemismo), e nunca fui tão irresponsável com minha saúde. Parece que a ajuda vem de tartaruga ao passo que as duvidas, o tedio e a preguiça vem à galope, de lebre, de formula um! Não reclamo, talvez seja um mal do nosso tempo – e, para piorar, eu me distraio fácil demais. O que é essencial é invisível aos olhos.